Friday, March 24, 2006

 

O que é um diário?

“Como definir o diário? Parece fácil... As razões e os conteúdos variam tanto que é quase desesperante dar-lhes uma idéia completa do que ali se pode encontrar. Em primeiro lugar, um diário se escreve ao sabor do tempo, é muito diferente de todas as autobiografias, memórias e outras parentes próximas do gênero. O diário é observado dia a dia, mais ou menos escrupulosamente mas é sempre uma espécie de representação “em direct” ao vivo da vida.

Ter um diário íntimo é também muitas vezes bastante difícil. É uma atividade que exige uma certa disciplina, que ordena a vida. Eu gosto de mostrar os dois lados da medalha, é preciso ser realista! Pessoalmente, o que me anima é uma mentalidade que eu qualificaria de “arquivista” e de colecionadora. Desde criança, nunca pude me resolver a jogar fora seja lá o que for. Guardo tudo! Ter um diário é uma maneira de colecionar os dias... Claro, as ambições do diário são uma causa perdida de antemão.[...] Claro que o diário íntimo tem limites. [...]. Colocar-se no papel quotidianamente é também uma maneira de se colocar a nu e se decifrar o interior, sem ter a pagar uma terapia. Notemos que muitos o utilizam com fins terapêuticos, aliás, para acompanhar uma psicoterapia por exemplo ou uma convalescença. Passa-se a vida a se buscar, a se descobrir. O diário age assim como o testemunha desta busca de si, e mesmo como parceiro, pois estando sós em face de nós mesmos em nosso diário, não podemos muitas vezes agir de outra maneira senão ver e compreender aquilo que somos relendo o que escrevemos. Alguns relêem seus diários e se surpreendem com o que escrevera. Outros não compreendem mais nada. Mantendo o diário de nossos dias, é a sim mesmo, é vida que a gente interroga. Sem obter respostas muitas vezes... Um diário é a encenação, uma representação de si. Nós somos o personagem principal de nosso diário. Nós temos às vezes a tendência a escrever as coisas não como elas são mas como deveriam ser. Escreve-se para embelezar ou dramatizar sua vida, para lhe dar um sabor novo. O diário é muitas vezes um dos últimos refúgios do sonho.”

Definição de “diário” por Michele (http://www.colba.net/~micheles) citada por

MUZART, Zahidé Lupinacci. Do navegar e de navegantes. In.: MINOT, Ana Chrystina Venâncio; BASTOS, Maria Helena Câmara; CUNHA, Maria Teresa (orgs). Refúgios do eu: educação, história, escrita autobiográfica. Florianóplis: Mulheres, 2000. (pp181-190) (a citação é das páginas 184-185)


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